No centenário de Pasolini, sua vida e obra são investigadas

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O ano de 2022 foi celebrado, em particular na Itália, como a data do centenário de nascimento do cineasta, poeta e escritor Pier Paolo Pasolini. Desta forma, mais até do que apenas comemorar a data, diversos estudiosos reuniram-se para iluminar, em um mesmo volume, certa crítica brasileira que vem sendo escrita há um bom tempo, sobre a obra e a figura do intelectual italiano. Assim, nasce Um intelectual na urgência: Pasolini lido no Brasil, organizado por Maria Betânia Amoroso e Cláudia Tavares Alves, em coedição da Editora Unesp e da Editora da Unicamp. Para esta obra, autores e autoras dos textos aqui reunidos foram convidados a adentrar o universo pasoliniano pela fresta que melhor lhes conviesse, traçando dessa forma rotas próprias pela obra do autor. Além disso, somaram‐se textos considerados fundamentais para pensar a presença de Pasolini entre nós.
“Os 17 ensaios deste livro constituem, em seu conjunto, a abordagem mais ampla que já se fez da obra de Pasolini no Brasil. A coletânea congrega os principais estudiosos brasileiros e italianos de Pier Paolo e começa com dois documentos históricos, que testemunham sua ´chegada´ ao país. A partir daí, as abordagens se desdobram em caminhos que se cruzam: da poesia à crítica literária e cultural, do jorna lismo militante ao cinema e ao teatro”, anota, nas orelhas do livro, o pesquisador Mauricio Santana Dias. “O resultado desse tratamento em múltiplas perspectivas – aliás, o mais condizente com o ethos pasoliniano – consegue dar conta de sua complexidade sem se fechar em interpretações unívocas, tornando-se desde já uma referência sobre ‘o poeta das cinzas de Gramsci’.”
Pasolini ainda nos fala e se faz discutir, como relata o professor de Estudos Italianos e Literatura Comparativa Giona Tuccini. ”É o que deixa claro este livro, no qual a figura pasoliniana surge ainda viva nos diálogos densos de estudiosos de diversas proveniências, convocados a desnudar – pela diversidade de suas abordagens – esse autor perscrutado como ‘mundo’”, escreve. “Sobretudo o Pasolini filósofo, cuja voz atravessou longitudinalmente a segunda metade do século XX e acabou ressoando no nosso tempo como um mausoléu repleto de ecos. Assim é oferecido, pela primeira vez, um balanço parcial da transmissão da força moral do ‘fenômeno’ Pasolini no Brasil.”
“Não passará despercebida a leitores e leitoras deste livro a recorrência, no conjunto de textos ao redor do intelectual italiano Pier Paolo Pasolini (1922‐1975), da expressão ‘paixão e ideologia’, presente em dois dos títulos e também no interior de vários ensaios aqui reunidos”, anotam as organizadoras. “Emanaria dessas duas palavras, colocadas lado a lado, uma espécie de síntese pasoliniana que se permite ser apropriada e reelaborada por aqueles que se dedicam a pensar sua obra, ainda que seguindo por caminhos diversos.” E ele permanece atualíssimo. “As urgências e os perigos experimentados agudamente hoje, em 2022, foram incessante e obsessivamente encenados por Pier Paolo há mais de meio século. Retornar a eles e projetá-los em um futuro ainda em aberto é mais que necessário”, arremata Maurício Santana Dias.

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