Post original em: 25.07.2018
A gag veio para o cinema como uma herança do teatro burlesco e do music-hall no início do século passado. A gag nos oferece uma piada completa. Ela se opõe a histórias ou faixas de continuidade, que dependem do desenvolvimento de um enredo através de uma seqüência de cenas.
A gag é a síntese de uma ideia em poucos atos. Nos quadrinhos ela pode ser resumida num único desenho ou meia dúzia deles. Ela requer por parte do autor enorme capacidade de dizer muito em poucas palavras. Pergunte a qualquer capista de revistas em quadrinhos o quanto isso é difícil. E ainda assim, não é qualquer capa que será uma gag.
Claro que a gag vai além disso. Num enredo mais complexo a gag é muito importante para fisgar a audiência. Charles Chaplin soube usá-las magistralmente. A premiada cartonista Lynn Johnston a recomenda para os roteiristas, a fim de manter os leitores e engajar novas audiências que podem não estar muito familiarizadas com o pano de fundo da história.
Um dos primeiros "gaguistas" dos quadrinhos foi Ernie Bushmiller. Nascido no sul do Bronx, em Nova York em agosto de 1905, ele era filho de pais imigrantes, Ernest George Bushmiller e Elizabeth Hall. Seu pai era um artista, vaudevillian e talvez tenha sido inspiração para sua arte gráfica. Afinal palavras como "flop" e "gag" eram termos criados a partir da era do vaudeville e entraram no idioma americano.
No início de 1925, o cartunista Larry Whittington, criador da tira em quadrinhos Fritzi Ritz, saiu para produzir outra faixa, Mazie the Model e Bushmiller, em seguida, assumiu Fritzi Ritz. Em 1933 Bushmiller apresentou Nancy, sobrinha de Fritzi. O personagem se mostrou popular e marcou a carreira do artista por meio século!
Como os desenhistas Paul Karasik e Mark Newgarden observaram em seu ensaio, "How to Read Nancy": Bushmiller tinha a mão de um arquiteto, a mente de um comediante de cinema mudo e a alma de um contador. Sua abordagem estética do humor revelou de forma bela a essência do que é uma gag perfeita - equilíbrio, simetria, economia. Suas piadas têm a sensação abstrata de matemática e Nancy era, na verdade, uma equação de mini-álgebra disfarçada de história em quadrinhos por quase 50 anos. Um painel de Nancy é um conceito irredutível, um átomo e a história em quadrinhos é uma molécula.
Por: Paulo Franco Rosa (Jornalista, roteirista e editor de publicações especializadas)
REFERÊNCIA(S):
Grand Comics Database (https://www.comics.org/series/18222/)